sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Especiarias #1

Esta rubrica serve para vos apresentar algumas das personalidades que deram um sabor especial à minha vida. Os aspectos biográficos serão reduzidos ao mínimo. A história que vos irei contar é a minha.

Como a maioria dos estudantes tive de ler A Aparição, esta foi a minha primeira obra de Vergílio Ferreira e pela qual me apaixonei. Via naquele livro um reflexo dos meus pensamentos, da minha identidade.

Seguidamente o Em Nome da Terra veio parar às minhas mãos. Até ao momento, este é um dos meus preferidos (e, na minha opinião, o melhor do autor). Vivi-o vezes sem conta. Em Nome da Terra é uma exaltação ao amor e à vida nele: duas coisas imprescindíveis para mim.

Começa assim:

Querida. Veio-me hoje uma vontade enorme de te amar. E então pensei: vou-te escrever. Mas não te quero amar no tempo em que te lembro. Quero-te amar antes, muito antes. É quando o que é grande acontece. E não me digas lá porquê. Não sei. O que é grande acontece no eterno e o amor é assim, devias saber. Ama-se como se tem uma iluminação, deves ter ouvido. Ou se bate forte com a cabeça. Pelo menos comigo foi assim. Ou como quando se dá uma conjunção de astros no infinito, deve vir nos livros.

(E podia continuar até ao fim do livro, não fossem os direitos de autor). Não é genial? Tão belo, tão verdadeiro...

Quando amo também escrevo. Ou quando me irrito. E sempre, sempre que um sentimento que me invade se diz maior do que eu.

A Estrela Polar, Escrever e, recentemente, o Apelo da Noite são outras das obras do escritor que tive oportunidade de conhecer. Porém nenhum me marcou tanto como os dois anteriores, apesar de ter gostado muito d'A Estrela Polar. A Manhã Submersa (tal como o filme) está ainda na minha wishlist.

O motivo que faz de Vergílio um dos meus autores favoritos é essa necessidade de existir, de ficar e conhecer. Inclusivamente, no seu livro Escrever ele diz-nos:

O que mais me intriga e dói na nossa morte, como vemos na dos outros, é que nada se perturba com ela na vida normal do mundo. Mesmo que sejas uma personagem histórica, tudo entra de novo na rotina como se nem tivesses existido. O que mais podem fazer-te é tomar nota do acontecimento e recomeçar. Quando morre um teu amigo ou conhecido, a vida continua natural como se quem existisse para morrer fosses só tu. Porque tudo converge para ti, em quem tudo existe, e assim te inquieta a certeza de que o universo morrerá contigo. Mas não morre. Repara no que acontece com a morte dos outros e ficas a saber que o universo se está nas tintas para que morras ou não. E isso é que é incompreensível - morrer tudo com a tua morte e tudo ficar perfeitamente na mesma. Tudo isto tem significado para o teu presente. Mas recua duzentos anos e verás que nada disto tem já significado.

E tu, tens um autor português preferido?

2 comentários:

Roberto Valerio Jr. disse...

Nícia,
Escolheste muito bem o seu escritor preferido.
Ferreira era um artesão das palavras. Tinha uma posição filosófica bem direcionada e conseguia com precisão despejar suas divagações de maneira soberba e poética como poucos.
Meu escritor preferido muda conforme a lua (rsrs). Mas, sem dúvidas, Vergílio Ferreira esta entre eles.

Ótimo seu blog!

Anónimo disse...

Olá Eraserhead, bem-vindo ao pingos de tinta!

Os meus escritores preferidos não se alteram, mas à medida que vou conhecendo novos autores, a lista tende a crescer. Nas próximas especiarias falarei de mais alguns. ;)

Muito obrigada pelo teu comentário e subscrição.

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