quinta-feira, 23 de outubro de 2008

mística música

Entre o rir e o chorar
Reconheço quem sou
Entre o ir e o ficar
Viajo p'ra onde não vou

Entre os abraços dos teus sons
... E silêncios
Se descobrem os dons
Ao sabor dos quatro ventos

És musa encantadora
Que faz sonhar
Me faz sorrir e dançar
Me faz, por vezes, meditar

O Tempo é eterno
E o espaço infinito
A Morte incerta
Deixa de ter um visto

O corpo extasia-se
Fala como quem quer voar
Nada importa
Só interessa escutar-
-te.

Sentir teus arrepios
(E as batidas)
Teus toques claros e sombrios
De fugas, de amores
De gentes e cores

Faz-me vil, faz-me divina
Faz-me tua, num eterno prazer

07Agosto08

--

O meu poema mais "recente".

ciclos

E do Nada veio o Tudo
Passado..., Presente..., Futuro...
E o Tudo será Nada
Uma Vida acabada...

Caio, levanto-me!
Para voltar a cair:
Começando a chorar
Acabando por me rir.

A noite, o dia.
A tristeza, a alegria!
O começo que acabou
Mas logo recomeçou.

Vou e venho
E torno a ir
Tal qual um espelho
A reflectir.

E por momentos sou água!
Depois apenas ar...
Vivo instantes de felicidade e mágoa
Entre o perder e o achar.

E Sou! Para deixar de Ser...
Mas vivo! E um dia irei morrer...

--

Publicado n'O Farol, uma revista interna na ESM, há 7 anos atrás.

um sempre intercalado de nuncas

Quem? Quem
Acordou a Eternidade,
Me demonstrou a Verdade
De um local misterioso e profundo
E que me fez vir ao mundo?

Quem? Quem
Me fará adormecer
Num instante imortal,
Na Morte revivar
O Ponto Inicial?

Oh! Arma fatal!...
Meus olhos embaciados
Pelo teu manto negro, pintado
Nesta tela irreal...

Quem? Quem
Me deu o Tudo
Para cair no Nada?
Num silêncio calmo e mudo,
Existência profanada..
Porquê, porquê?!?!

--

Este poema também ganhou um concurso, há 7/8 anos atrás.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Sem sentido

Uma porta, um buraco,
O dedo de todas as escolhas
A vida, um velho saco
Perímetros desmedidos e... folhas

Caídas em torrente,
Precipícios de sonho e gente
O faz-de-conta de toda a mente
O sangramento de todo o corte

Uma gota, a cegueira
Os trenós de desesperança
O brilho, uma barreira
Projectos pagos à fiança

Daquilo que nunca será nosso.

quarta-feira, 7 de maio de 2008

A Sra. Vírgula

Quem sou?

Sou um sinal de pontuação organizado, justo, mas um pouco preguiçoso e anti-social. A minha função é separar, isolar, intercalar e…fazer pausas. Pode-se dizer que sou a polícia de choque no mundo da literatura.

Onde estou?

Estou em muitos sítios, parece que não mas trabalho. Antes de mais gosto muito de falar com as pessoas, por isso estou sempre presente nos vocativos. E sempre ouvi dizer que os apostos se atraem, e a mim atraem-me muito: envolvo-os logo com os meus braços quando decidem aparecer.

Estou entre elementos de natureza semelhante ou com função sintáctica idêntica, desde que não estejam presentes o Sr. E, o Sr. Ou ou o Sr. Nem (excepcionando quando estes surgem repetidos).

Separo sempre as repetições e não deixo que o Sim e o Não se juntem ao resto dos elementos frásicos, desde que eles façam parte da oração anterior e sejam os primeiros elementos da frase.

Coloco-me também depois dos complementos adverbiais que se sentam no início da oração ou no meio dos seus elementos principais para que não destabilizem o sentido da frase.

Confesso que não gosto muito de orações coordenadas e tenham elas a conjunção ou não, lá estou eu a separá-las. As orações subordinadas adverbiais, principalmente as que ocorrem antes da oração subordinada também estão na minha lista negra.

Gerúndios e particípios passados não são o meu forte, é por isso que encosto sempre a orelhinha para ver se aprendo alguma coisa. Se é qualidade ou defeito não sei, mas sou curiosa.

Quando uma frase se decide a devanear vem sempre chamar-me para delimitar as suas explicações inúteis para a compreensão da frase em si. Cá estou eu uma vez mais a colocar alguma ordem nisto tudo…

Já vos contei que nunca me esqueço de uma data? Deve ser por ter nome de mulher. Estou sempre depois da localização e antes do dia anunciado (outra das minhas qualidades é ser pontual).

Como sou fotogénica vou mostrar-vos algumas fotos que tirei durante as minhas curtas, mas constantes, pausas. Assim conhecem-me melhor e vêem como sou importante.

Onde não estou?

Nunca me meto no meio dos elementos principais de uma frase, já dizia o ditado: «entre sujeito e predicado não se mete a “colher”» e o mesmo se aplica aos complementos, sejam eles directos ou não, ou aos predicativos…

Não trabalho em orações relativas restritivas, aquelas que se julgam imprescindíveis para se perceber a oração subordinante.

Fotos

O meu jardim tem malmequeres, amores-perfeitos, lírios, rosas e cravos. (Elementos de natureza semelhante)

Ou eu, ou tu, ou ele, mas isto precisa de ser arrumado. (Conjunções repetidas numa enumeração)

Liliana, cozinhas muito bem. (Vocativo)

A Margarida, mãe do André, foi internada ontem. (Aposto)

Ai que bom, ai que bom, finalmente consegui! (Elementos repetidos)

Não, que disparate. (Advérbio não)

À noitinha, as estrelas, por vezes, não aparecem. (Complementos adverbiais)

Fui à faculdade, estudei, voltei para casa. (Orações coordenadas)

E gritou, e chorou e resmungou. (Orações coordenadas com conjunção repetida)

Saí mas, sem me dar conta, deixei as chaves em casa. (Expressões intercaladas)

Ao ouvir o estrondo, dei um salto. (Orações subordinadas adverbiais)

Corando, escondeu a face. (Gerúndio)

A D. Amélia, de quem eu gosto muito, vai-se casar para a semana. (Orações relativas explicativas)

Porto, 16 de Abril de 08


Por fim só uma advertência: não me usem só de ouvido, pois eu faço bem mais que falar. Vejam:

Maracujá não tem bicho – digam-me, onde fico melhor?

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

os poetas I

O mundo é grande

O mundo é grande e cabe
nesta janela sobre o mar.
O mar é grande e cabe
na cama e no colchão de amar.
O amor é grande e cabe
no breve espaço de beijar.

Carlos Drummond de Andrade
Amar se Aprende Amando

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