terça-feira, 11 de dezembro de 2012

bom dia!

via  pinterest
Acordo de manhã com uma caneca de café quente ao meu lado, um beijo doce e promessas de eternidade. É assim todos os dias, há já quase dez anos, e eu ainda não conheci melhor forma de acordar.

No entanto, por muito tempo, desperdicei estas primeiras horas entre a sonolência e o despertar, entre os sonhos e a...realidade? Entre o calor dos lençóis e a frescura da mente.

Por muitas vezes me queixei da falta de inspiração, ou de não ter nada para contar. Mesmo quando os pensamentos lutavam entre si a fim de terem um pouco da minha atenção. O receio constante de “ter perdido o jeito” impedia-me de enfrentar o papel.

Muitos escritores, famosos ou não, me diziam para escrever todos os dias, ao acordar. Só agora me decidi a seguir o seu conselho e, três textos depois, considero ser uma excelente prática.

As ideias saltitam como pipocas, as imagens surgem espontaneamente*. O meu inconsciente invade o consciente e eu sequer preciso de pensar. Temas, abordagens que, em dias normais (como se eu os tivesse), não me lembraria de apontar ficam gravados a tinta impermanente.

Padrões. Foi a primeira palavra de que me lembrei ao olhar para o café. Procuramo-los por todo o lado. Nas estrelas, nas borras de uma bebida qualquer, nas palmas das mãos. E achamos que assim trazemos siginificado à vida. Não estaremos também a usurpá-la, a criar estereótipos? Até que ponto existem padrões e até que ponto os poderemos analisar? (Um entendido na matéria que me ajude.)

Será a vida pura matemática? Um caos organizado? Quantas vezes serão precisas testar que A+B=C? Poderíamos então viver de fórmulas? Os livros de auto-ajuda tornar-se-iam, assim, manuais escolares?

Nunca acreditei no livre-abítrio total. Somos sempre condicionados pelos livros que lemos, pelos filmes que visionamos, pela música que escutamos, pelas pessoas que nos rodeiam, pelos lugares que frequentamos, por aquelas outras pessoas que idolatramos. E mesmo esses talvez sejam indirectamente escolhidos por nós.

Mas também não confio em soluções pré-determinadas. No mundo a preto e branco. No limite entre o certo e o errado. Se existe uma fórmula, existe um deus. E quem não quer ser deus?

*Quando se lembram de uma história, também esta vos surge por imagens? Como se em vez de a terem lido, tivessem visto um filme?




sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

fragmentos

via praça do artesanato

Vivemos de estratégias. De tutoriais. De how-to’s. Citações pseudo-profundas. A vida que vivemos será mesmo nossa?

“Mude de vida em 59 segundos”, “15 alimentos obrigatórios sem calorias”, “16 razões para não ter filhos”, “Sexo: o que eles querem”. É esta a cultura das revistas cor-de-rosa. É isto que a maior parte das mulheres portuguesas lêem. É nisto que elas se querem tornar.

Asimov já falava em robôs por alguma razão, às vezes parecemos apenas máquinas à espera de instrução. Não é preciso criar computadores inteligentes, que pensem por si próprios. Porque mesmo a espécie humana falhou nesse ponto.

Mas eu estava a falar de estratégias. Sempre que ouço esta palavra lembro-me de manipulação e de guerra. Ou será adaptação? Actualização? Darwin? 孙武 (Sun Tzu)? Conhecer o que nos rodeia? Questionarmo-nos? Evoluirmos?

Desde que ainda éramos metade-óvulo-metade-espermatozóide (ou ainda antes disso) que somos fragmentos de fragmentos de fragmentos. Sou a cauda de um cometa. Uma pequena parte da nébula. Já vivi na sopa primitiva e conquistei o céu em forma de relâmpago.

Um dia serei apenas parte lixo, parte substância nutritiva. Contribuirei, talvez, para a História da humanidade, mas a narrativa mais importante ficará por contar: os medos, os sonhos, as fobias, as vitórias, os fracassos, a descoberta.

Não me tornarei no nada, que por muito tempo pensei que me transformaria. Serei tudo. Cada átomo viajará tempos e espaços infinitos. Voltarei a ser estrela cadente e realizarei milhares de desejos. Repousarei nas crateras da lua e, mais uma vez, serei seduzida pelos encantos do pequeno planeta azul.




quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O eu pelo tu

via Pinterest

Acabei recentemente de ler o primeiro volume do diário de Anaïs Nin. Tirando Isabel Allende, não há muitas mais escritoras que me inspirem. O meu Moleskine está agora cheio de citações e notas. E de palavras soltas para uma pesquisa mais profunda.

Eu poderia ser Anaïs. Por pouco partilharíamos o mesmo nome. Não tendo essa sorte, fiquei com o seu amor pela vida, a sua personalidade sonhadora, o anseio por ser vários eus. O sentimentalismo e a sensibilidade. A alegria de escrever, o lirismo. O paradoxo. O medo da sua verdadeira natureza não ser compreendida. O amor pelo amor.

E por isso cá estou eu outra vez:

O frio arrepia toda a casa. Nem a caneca de chocolate quente a consegue aquecer. Não há aquecedores nem tem lareira. A crise económica já atacou os corpos da população. A alma, essa nunca foi livre.

Entre o comprar e o deitar fora ficou a dívida que durará uma vida a ser paga. Todos se adornam, pensando que beleza é felicidade ou que esta se embrulha em papéis dourados, brilhantes, árduos de encontrar.

Tal como a avestruz, o povo meteu a cabeça dentro da televisão. Sentiu-se tão confortável que de lá já não consegue sair. Prometeram-lhe fama, felicidade instantânea. Tão instantâneo como o chocolate que estava a beber. Quando o que eles querem dizer é ‘prazer fragmentado’. Breve. Inestimável. Mas só porque não tem valor algum.

Sexo, mentiras e música pimba. Corpos perfeitos em mentes pútridas. 0% de pensamento crítico.

Eles lá sabem o que é a felicidade. Não vem em barras luzidias nem em embalagens ultracongeladas. Não vem sequer em livros, mas mesmo que viesse ninguém os leria. Eles lá sabem o que é a felicidade porque desconhecem o amor.

Andam todos à procura de adrenalina, do sabor do momento, das sensações arrebatadoras. Mas o amor não é o coração palpitante, não são as borboletas no estômago, nem súbita sensação de calor. Amor não é fisicalidade.

Amar é compreender a vida. É entregar-se à vida. É deixar de ser humano para se ser natureza. É deixar o um para se ser o todos. Amar é aprender a morrer.


Photobucket

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails