segunda-feira, 29 de outubro de 2007

toda a gente

Quem sabe?
O que é um pingo d'areia?...
Quem sabe?
Se é o brilhar d'uma teia?...

Sinto-me estancar, uma onda!...
A palavra que não sei...
Será curta, será longa?
Um impossível sem lei (?)...

Quem sabe?
Um aroma perdido?
Em sulcos acizentados...
Ou um texto...intensamente lido!...
(Quem sabe?)

Sei...vejo o seu fulgor!
Violentamente breve,
Anjo eclipsador...
Um dia lunar, um beijo de neve...

Quem sabe?
O sopro de um abraço?
Quem sabe?
Da eternidade, um pedaço?

O tule de olhares...
Quem sabe?
O labiar de um sorriso!...
"Seres" e "Estares",

Ouvido rude ou paladar liso...
Quem não sabe?
Se ele é nosso?
Se vem e acompanha...
Todo o nosso troço!

Sim, são momentos!
Os instantes da vida!
Solários ou tormentos
Ostentanto sua medida.

Agarramos ou escondemos,
Estacamos ou voamos...
Lembramos ou esquecemos,
Imaginamos ou criamos!...

Mas...
Quem sabe?
O que é...
Um momento???

Maio 2006

domingo, 28 de outubro de 2007

contradições

Um cubo firme.
Opaco, irregular
Metamorfose sublime!
Arrepio ao se tocar...

Objecto ignóbil
De imponente dureza
Numa luz vil
Encontrar-se-á sua fraqueza.

Derrete-se em consistência
Quando numa mão carregado:
A eterna veemência
De um liquido cristalizado.

Abaixo de um zero
Reside a sua existência
Reflectindo o mero
Colidir da importância!

Caracteriza a morte
Prende-nos nas suas garras!
Sentimento rude, forte
Faz-nos amar suas amarras...

Sorrimos na sua presença...
Pensamos encontrar a vida!
Na alegria inocente
De uma molécula escondida...

Indícios de dois elementos
Que procuramos sem cessar
Confrontando oceanos e ventos
Num mais alto patamar

Vida, que cais do céu
E te originas no mar,
Cobres-nos com teu véu
De conforto glaciar!...

Proteje e guarda!
Imobiliza e refresca...
A transparência é a farda
Do predador e da presa!...

Silencioso...e aterrador!
Catastrófico!
E fascinante...
Um bem admirador
Mas um mal agonizante...

Ser essencial
A uma vida terrena
Cresce, sendo fatal,
Como perdedor na arena...

Beleza comovente...
Em arte imortalizada!...
Num sangue dormente
De energia quebrada!

Remói-se e atira,
Envolve escondendo...
Força inibida
Num tempo pendente!...

Fica! Adormece...
Em braços de horror
Mata! esquece...
Tua alma de dor!...

Setembro 2004

sábado, 27 de outubro de 2007

diálogos

O brilho.
Um som.
O estrilho.
Um palpitar de coração.

Tocou-lhe,
Objecto fino e delgado,
Paralisou-a
Num olhar assustado.

Um sorriso escarnecedor
Uma carícia em sua face
Um sentimento enojador
Um homem pobre, sem classe

E num rápido movimento
Executou a sua acção
Matou vida e pensamento
Sem dó nem emoção

Um corpo cai desamparado
Toca, sem sentir, o chão
Um inocente mal-amado
Conheceu o ódio de um 'Não'

Uma pergunta ameaçadora.
Uma resposta inacertada.
Uma morte aterrorizadora
Uma vida de nada...

Agosto 2004

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

cortes

Pensava serem facadas
Que a feriam e matavam
Mas eram colheres preocupadas
Que a protegiam...e amavam!

Pensava serem o mural
Que a afastavam da felicidade:
Só era o medo capital
De uma vida de leviandade!

Pensava!
Mas nunca foi...
Não gostava de o saber.
A verdade às vezes dói,
É difícil de reconhecer...

Ela, o cortante objecto
Por suas mãos se fazia sofrer,
Ela: o mural sem afecto
Onde se resignava esconder!...

Culpada, não queria acreditar...
Sofrida: assim não poderia ser!
Calada. Silêncio com voz de matar...
Ressequida! Na pele que há-de morrer!...

Agosto 2004

terça-feira, 23 de outubro de 2007

seres do amanhã

Piam em facadas
Que os fazem renascer.
Assobiam em pegadas
Que o caminho teima em escurecer...

Farejam almas perdidas
Na loucura de um corpo são.
Arrepiam chamas vivas
Em mistérios de podridão!

Sonham em dias de Ontem,
No crepúsculo do Amanhã.
Soltam-nos para que voltem
E novamente pertençam ao clã.

Seres que nada são,
Seres que nada têm.
Seres que nunca vão,
Seres que sempre vêem!...

Agosto 2004

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

senti-te!...

Nessa estalada de água fria
Com sabor a lentidão
Nessa boca radiante, que ria,
Essa frágil mão...

Que o parecia ser
Mas não, eu senti-a!
Bem colada ao corpo que fez arder
Essa pele macia...

-Sofre, chora
Experimenta o amor
Sente-o agora
Na alegria da dor-

Gritei de loucura:
Queria-te como nunca
Essa doce fervura
Da nossa vida junta

Beija-me, arrepia-me uma vez mais
Um gesto doce e demorado
Repetidos cem vezes 'ais'
Esse beijo: cada vez mais desejado...

Agosto 2004

sábado, 13 de outubro de 2007

linhas mortíferas

A linha que traça a vida:
Que a mata.
Lhe dá guarida.
Nunca a verei...

A linha que me conduz,
Me ofusca.
Me mostra a luz:
Sempre a senti!

O início que me dita o destino...
NUNCA o pedi!...
Nem sempre o quis...
Não o quero deixar!!!...

O fim que se aproxima.
Já o chamei,
Por ele chorei...
Não o quero meu...

Essa linha que traça a vida...

Agosto 2004

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

eles e os outros

Era o fim de uma tarde de Inverno. Eles estavam juntos, numa praia deserta, a ver o pôr do sol.

Andavam sempre escondidos, com medo de serem vistos, com medo das reacções. Enfim...viviam uma vida feliz de infelicidade...

Quando os pais souberam expulsaram-nos, renegaram-nos e agora vivem (ou será melhor dizer sobrevivem?) numa rua de lágrimas, carícias, desabafos naquela praia deserta 2de Inverno...

Vivem da pesca, vivem da chuva, das algas e estão magros, que magros estão! Cara doentia, pálida...quem os vê murmura: "Mais um par que escolheu o caminho da Morte...da Droga...", mas não, a sua única droga é a vida...

Se passeiam em locais públicos, os "grandes" apontam o dedo, os "pequenos" gozam, os mais velhos abanam a cabeça, os cafés fecham-lhes as portas e não conseguem arranjar trabalho fixo.

Mas um dia o sol brilhou e conheceram gente como eles, também assim menosprezados, rejeitados. E formaram um grupo e lutaram e mostraram os seus sentimentos!

A população não escutou, o padre lá da aldeia criticou. E eles eram alvejados com comentários depreciativos, com olhares ameaçadores.

Às vezes, magoados, respondiam. Agora já nem ligam, ambos criaram uma barreira entre "os desiguais" e o "mundo".

O seu objectivo é quebrar essa barreira e com ela a palavra "diferença", afinal o que é a "diferença"? Não seremos nós todos diferentes? Que terão eles mais de diferente que nós?

O grupo foi aumentando e, talvez por isso, baptizado: já não são apenas "os desiguais", são "Os não(In)diferentes"!

Sessões organizadas, assistidas, anunciadas. Protestos realizados, direitos proclamados. Mas sempre, sempre renunciados...

Cartazes criados, uma luta interminável. E agora são ouvidos, com um ouvir de troça. Por vezes defendidos por quem tem algum coração.

Conseguiram apoio, pouco, mas já é alguma coisa. Um apoio que se tornou forte, que se tornou invencível. Um apoio que mudou muitas perspectivas, muitas ideias formadas (a maior parte delas erradas). Um apoio de um comerciante com um coração de ouro, e, quem sabe se os olhos também o não eram...e se fosse um comerciante qualquer! Este era candidato a presidente da junta...

Começaram pelo padre. Se há alguém que toda a gente ouça, toda a gente siga é a ele. Convencendo-o, convence-se a maior parte do povo.

O padre resistiu mas acabou por ceder, agora já podiam assistir à missa, já podem comungar, já podem confessar, mas casamentos não. "É inadmissível!", disse o padre, "De maneira nenhuma!".

O povo escandalizou-se, resmungou, protestou. O padre acalmou-os, explicou, convenceu.

Um pequeno café decidiu aliar-se ao grupo, alugando o estabelecimento para a realização das sessões. Numa dessas sessões um dos pares lembrou-se que poderiam organizar uma palestra com vista a tirarem as possíveis dúvidas que o povo teria. Fez-se uma votação. O voto foi unânime: todos concordaram.

Desta vez não foram precisos cartazes, a mensagem foi transmitida de "boca em boca". Apenas se fixou um aviso na igreja, porque já se sabe, quem conta um conto...

A data marcada foi um Sábado, dia em que ninguém trabalha, também se poderia escolher o Domingo mas é dia santo, toda a gente vai à missa...e, toda a gente sabe, numa aldeia, nem vale a pena fazer concorrência ao padre, o grupo sairia a perder...

Desta vez fizeram sucesso. A maior parte da aldeia apareceu, alguns apenas para gozar (como já é costume), mas pode-se dizer que valeu a pena. Toda a gente saiu esclarecida e com vontade de mudar as suas atitudes. Muitas outras, como esta, foram realizadas, algumas mais satisfatórias que outras. Mas já quase passam despercebidos nas ruas, mesmo assim há sempre alguém a olhar, a cochichar...

Arranjam trabalho tão facilmente como os outros, aqueles outros que, para mim, nem são outros, porque ainda não descobri uma diferença tal que os possa diferenciar, dividir em dois grupos.

Os filhos renegados voltaram a casa, conversaram, dialogaram e reataram os laços familiares, agora mais fortes que nunca.

O grupo já não é formado somente pelos considerados "diferentes", mas também por toda a gente que os apoia, tais como pais, amigos, conhecidos.

Um ano passou, um ano repleto de lutas, um ano repleto de mudanças. Não todas as desejadas...ainda há muita gebte "presa" às Leis de Deus...

O comerciante conseguiu atingir o seu objectivo. Alegando ter ajudado muita gente desprezada, foi eleito presidente.

A barreira que tinha sido construída pelos dois "grupos" começou a ruir aos poucos e poucos, quem sabe se, algum dia, essa barreira desaparecerá...

Mas quem será este grupo misterioso que era, e talvez ainda seja, desprezado, "diferente", que, segundo alguns, não obedecia às Leis de Deus, e, por isso, não se podia casar?

Que pessoas são estas que não podem demonstrar os seus sentimentos em público com receio de serem criticadas? QUEM? PORQUÊ?

Era o fim de uma tarde de Inverno...Eles estavam juntos, numa praia deserta, a ver o pôr do sol. Naquela praia deserta de Inverno...

Outubro 2001

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Este foi o meu primeiro conto. Escrevi-o para participar no concurso "Uma aventura literária", da Caminho.

O tema era "Eu e os outros" e saiu-me isto. Na altura a ideia de as pessoas renegarem os homossexuais irritava-me, por isso passei os meus sentimentos para o papel.

Nos comentários tenham em consideração de que este texto foi escrito há 6 anos atrás, ou seja, eu ainda estava muito verdinha em termos de escrita.

Tenho um carinho muito especial por este texto pois foi com ele que ganhei uma Menção Honrosa, apesar de ter a perfeita noção de que se tivesse de o reescrever muita coisa seria mudada.

Agora as vossas opiniões. :)

esfera

Arqueio-me em momentos lunares
Nos jeitos terrestres de um sonhador
E no enlaçe dos "seres" e dos "estares"
Partilho-me entre perfumes e cor.

A branquidão que ofusca a alma
Deixa um desejo no olhar.
Concentro-me em serenidade e calma
Em janelas do meu lar...

Dividida em teus quatro quartos,
És completa em misticidades.
Ovulada em carinhos e factos
Ficaste-me em futuras saudades...

Aposento-me nas tuas crateras,
Delicio-me com os teus mares.
Esfera por entre as esferas...
Altar dos meus altares!

Outubro 2006

pingos de tinta

Cá estou eu com mais um blog. Este serve para alojar todos os meus textos e poemas, porque a escrita é outra das minhas grandes paixões.

Espero que gostem e, quem sabe, vos inspira também...

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