quinta-feira, 18 de março de 2010

Se ironia fosse livro, era S. Cipriano

A máscara é a nossa identidade: o real em plasticina. Ao revelarmo-nos ao outro, escondemo-nos nas suas expectativas; por vezes até aquilo que queremos dizer é dissimulado.

A ironia é a minha massa preferida. A máscara por baixo da máscara, um desafio aos sentidos, uma busca pela enciclopédia de cada um.

Mesmo quando censura, ela é alegre e faz-nos cócegas ao cortéx. Quanto mais oculta, melhor a gargalhada: mesmo se não a percebemos!

Porém, a ironia não é aceite por toda a gente, em todas as situações: nas peles mais delicadas, ela pode ser sentida como hipocrisia ou sarcasmo.

A sua energia mais positiva é aplicada no humor. Aprova-se o proíbido e o polémico, enlevando risos como um mágico puxando lenços. No jornalismo aumenta-se o calor e o prato é servido a quente, na sua função crítica e do encite ao debate.

Ela é ainda uma criança, o seu passatempo preferido é brincar. A dos criativos também. Assim, esta figura de estilo torna-se no remédio certo para o enjôo invasivo que, por vezes, a publicidade nos consegue provocar.

O verde-ácido, também associado ao veneno, acutila-nos em vários momentos do nosso dia. Seja pela língua, seja pelos ouvidos. Umas vezes mais verde, outras um pouco mais ácida. Ora, é de constatar que a ironia tem a cor dos olhos de quem a vê.

Nícia Cruz

5 comentários:

Nisa Oliveira disse...

Em primeiro lugar arrisco-me a dizer-te que o facto de este texto ter sido escrito hoje não é por acaso! Parece-me que, indiscutivelmente, as aulas do “dito cujo” começam a ser inspiradoras do ponto de vista da ironia. Estarei certa?

Não acredito que “ao revelarmo-nos aos outros nos escondemos nas suas expectativas”. Pelo contrário, quando nos revelamos estamos, impreterivelmente , a dar-nos a conhecer. Talvez não seja de uma forma tão transparente, talvez a dissimulação esteja presente (ou não). Mas isso depende do que somos e, para quem nos damos a conhecer, depende de uma infinita quantidade de factores (circunstância, momento, empatia, interesse …).

No entanto, concordo contigo quando dizes que a “ironia não é aceite por toda a gente, em todas as situações”. Mas isso, é tão certo como uma qualquer fórmula matemática :)

O humor! Essa tão ‘polémica’ estratégia! Mas qual é o domínio da sociedade que não se serve dele? O jornalismo, a publicidade, o cinema, a fotografia…

Ah!! Dedica-te às crónica que, garantidamente, serei uma leitora assídua!!

PS: Tinhas razão quando disseste para não me assustar com o titulo (começas a conhecer-me)!! Embora o perceba, pessoalmente desagrada-me! Mas o texto é teu minha cara cronista!!

Anónimo disse...

Ironia ... expressões e/ou gestos que dão a entender o contrário ou algo diferente do que realmente significam!
Uma das técnicas para dissipar a ironia, é sem dúvida exortar com humor :)
Quando não conheço a área que me envolve, prefiro estar vigilante e sorridente, mas tudo não passa de uma máscara (como referes) que se não for usada unicamente quando necessária, engole-nos na sua própria identidade ...
;)

Anónimo disse...

Ai Nicia, Nicia... Tu muito gostas destas trocas e baldrocas, estes jogos de palavras. Estava a ler o texto e a pensar: "Isto é mesmo a cara da Nícia!" E à medida que o ia lendo, só me lembrava do texto da vírgula.

Acho q o Professor Ricardo Pinto deveria pensar seriamente em contratar uma cronista lá para o Expresso!! ;)

Anónimo disse...

Nisa, esta ideia de escrever sobre a ironia surgiu-me há muito tempo. Contudo, só agora tive a oportunidade de o fazer.
A ideia surgiu numa das aulas de Semiótica quando falávamos da conotação e denotação.

Segundo ponto: tu nunca consegues ser verdadeiramente tu, ages sempre em relação à pessoa que tens em frente, à maneira como a percepcionas e como entendes que ela te vê. Até pode ser inconscientemente, mas fazes-lo (e inconscientemente também revelas aquilo que não querias: lapsos, gestos, etc).

Anónimo(ou nem tanto :P): Não sei se serei assim tão boa. Mas, se o merecesse, não me importava de ter a oportunidade.

Nisa Oliveira disse...

Mesmo que inconscientemente nos moldemos à pessoa que temos à nossa frente, discordo com o facto de não conseguir ser verdadeiramente eu. Porque tal situação iria, então, levar à constante modelação porque ninguém é igual a ninguém. E, pessoalmente, ainda não sou dotada dessa 'prerrogativa'.

E agora pergunto: o que é ser-se "verdadeiramente eu"?! Como sabemos se alguém se pauta, perante diversas situações e perante pessoas diferentes, de uma mesma atitude? Na minha opinião, tal juízo só poderá ser feito quando conhecemos realmente alguém e aí, não existem 'moldes' que valham!

Apenas pontos de vista diferentes, Nicia!

Aguardo mais crónicas ;)

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