quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

O eu pelo tu

via Pinterest

Acabei recentemente de ler o primeiro volume do diário de Anaïs Nin. Tirando Isabel Allende, não há muitas mais escritoras que me inspirem. O meu Moleskine está agora cheio de citações e notas. E de palavras soltas para uma pesquisa mais profunda.

Eu poderia ser Anaïs. Por pouco partilharíamos o mesmo nome. Não tendo essa sorte, fiquei com o seu amor pela vida, a sua personalidade sonhadora, o anseio por ser vários eus. O sentimentalismo e a sensibilidade. A alegria de escrever, o lirismo. O paradoxo. O medo da sua verdadeira natureza não ser compreendida. O amor pelo amor.

E por isso cá estou eu outra vez:

O frio arrepia toda a casa. Nem a caneca de chocolate quente a consegue aquecer. Não há aquecedores nem tem lareira. A crise económica já atacou os corpos da população. A alma, essa nunca foi livre.

Entre o comprar e o deitar fora ficou a dívida que durará uma vida a ser paga. Todos se adornam, pensando que beleza é felicidade ou que esta se embrulha em papéis dourados, brilhantes, árduos de encontrar.

Tal como a avestruz, o povo meteu a cabeça dentro da televisão. Sentiu-se tão confortável que de lá já não consegue sair. Prometeram-lhe fama, felicidade instantânea. Tão instantâneo como o chocolate que estava a beber. Quando o que eles querem dizer é ‘prazer fragmentado’. Breve. Inestimável. Mas só porque não tem valor algum.

Sexo, mentiras e música pimba. Corpos perfeitos em mentes pútridas. 0% de pensamento crítico.

Eles lá sabem o que é a felicidade. Não vem em barras luzidias nem em embalagens ultracongeladas. Não vem sequer em livros, mas mesmo que viesse ninguém os leria. Eles lá sabem o que é a felicidade porque desconhecem o amor.

Andam todos à procura de adrenalina, do sabor do momento, das sensações arrebatadoras. Mas o amor não é o coração palpitante, não são as borboletas no estômago, nem súbita sensação de calor. Amor não é fisicalidade.

Amar é compreender a vida. É entregar-se à vida. É deixar de ser humano para se ser natureza. É deixar o um para se ser o todos. Amar é aprender a morrer.


Photobucket

3 comentários:

hamletprimeiro disse...

Very good post.
We live a truly cult of emptiness nowadays, Nícia.
It's sad to realize this "poverty of spirit" is taking control of the world.
The expression "música pimba" is very curious. There is a kind of "music" here at Brazil called "sertanejo universitário". Despite this name it's absolutely dumb, empty and sexist. The sad thing is that the name is because its primary public are young college girls that presumably should be a more sophisticated and educated public. Here specially this people are a elite. A elite of poverty of spirit.

Unknown disse...

Porquê o comentário em Inglês? ;)

Acho que este é o advento da Internet. Termos a informação sempre ao alcance de um clique dá-nos a impressão de que já não é necessário aprender nada ou de reter alguma coisa. Mas os new media são sempre assim, a própria televisão nos tornou em seres passivos e a Internet, pelo contrário, é um meio activo. Quando nos apercebermos das suas possibilidades acredito que essa pobreza de espírito desaparecerá aos poucos.

De momento, o mundo enfrenta uma crise não só económica como também espiritual e como em todas as crises a mudança é peremptória.

Aqui a música pimba, correndo o risco de estar a ser preconceituosa, é mais direccionada para as donas de casa ou para as pessoas que vivem na aldeia.

hamletprimeiro disse...

Hahaha.
Só me dei conta de que respondi ao sua postagem em Português com um comentário em Inglês agora, Nícia.
Espero que tenha dado para entender.

Por aqui a "música pimpa", em suas mais variadas formas, funk carioca, sertanejo universitário, brega, etc, é uma praga que atinge vários públicos.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails