Quando escrevo vem-me ao coração não só sentimentos, mas também memórias e medos. Principalmente sonhos e medos. Desejos.
Vêm-me livros, músicas, filmes, conversas. Vem-me Fernando Pessoa, E. E. Cummings, E. A. Poe. E Vergílio Ferreira, Manuel Cruz, José Régio, Miguel Esteves Cardoso, Florbela Espanca...Saramago. Porque gostava de ser como eles. Sábios e diferentes, com a angústia a pairar-lhes na cabeça. Ou talvez outra coisa que não a angústia. Algo a roçar o outro lado da lua, talvez.
São especiais. Génios à sua maneira. O humor, a crua realidade, a lírica das suas palavras. Queria ser como eles.
Vou-vos deixar com uma das minhas músicas preferidas. Vão perceber porquê.
...
somos a fachada
de uma coisa morta
e a vida como que a bater à nossa
porta
quando formos velhos
se um dia formos velhos
quem irá querer saber quem tinha razão
de olhos na falésia
espera pelo vento
ele dá-te a direcção
ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém
a idade é oca e não pode ser motivo
estás a ver o mundo feito um velho
arquivo
eu caminho e canto pela estrada fora
e o que era mentira pode ser verdade
agora
se o cifrão sustenta a química da vida
porque tens ainda medo de morrer
faltará dinheiro
faltará cultura
faltará procura dentro do teu ser
ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém
diz-me se ainda esperas encontrar o
sentido
mesmo sendo avesso a vê-lo em ti
vestido
não tens de olhar sem gosto
nem de gostar sem ver
ninguém é quem queria ser
ninguém é quem queria ser
eu queria ser ninguém
Ninguém É Quem Queria Ser por Manuel Cruz
P.S. Visitem o site do artista para ouvirem as músicas aqui (garanto que não se vão arrepender). As letras podem ver lá também, mas para uma lista mais completa voir ici.
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